Enquanto contemplava aquela imensa legião de anjos, vestidos com grandes túnicas, trazendo espadas de ouro flamejante nas mãos, todos de joelhos diante de nós, continuou o meu companheiro:
Nós aqui só nos ajoelhamos diante dos Sacerdotes e diante de Nossa Senhora.
E diante de Deus? perguntei.
Sim, diante de Deus, estamos todos de joelhos. Agora, dá sinal para que se levantem.
E, a um pequeno sinal que fiz com a mão, todos se levantaram.
Isso me deixava, cada vez mais, impressionado. Os Sacerdotes, no Céu, são tão reverenciados quase como o próprio Deus.
E agora, prepara-te para entrar! disse-me o anjo.
Com o coração ofegante e a alma transbordada de emoção, entrei nos aposentos sagrados de Deus Onipotente, o Criador do mundo.
Atônito, deslumbrado, fiquei caído diante da Majestade Divina, sem poder olhar direito aquele resplendor que me cercava de luz. Imóvel, sereno e sem mesmo bater os olhos, ali me deixei ficar, naquele silêncio feliz e tranqüilo que me fazia um bem imenso.
Face a face, diante do meu Deus, vislumbrava o grande mistério da Santíssima Trindade, vendo ao mesmo tempo o Pai Eterno, o Filho Jesus Cristo, aquele de quem eu me tornara um representante e o Espírito Santo, inspirador dos meus bons pensamentos. E, enquanto os via assim, em três pessoas distintas, contemplava-as, por uma misteriosa intuição divina, como um só único Deus.
Embevecido, maravilhado com aquela visão que eu nunca poderia descrever, perdi a noção do tempo, sentindo uma felicidade que não posso explicar em que consistia, pois era sentida, vivida por mim e não vista! Esqueci-me de tudo o que se passara antes, e até de mim próprio extasiado diante do meu Senhor.
E só despertei desta entrega de mim próprio à felicidade que me inundava de satisfação e me enchia de amor, porque o meu companheiro celestial tocou, de leve, em meu ombro, fazendo-me compreender que estava na hora de sair. E, segredando-me ao ouvido, disse:
Faz um ano que estás aqui. Deves retornar à Terra para continuares o teu trabalho junto às almas que te foram confiadas.
E, numa pergunta meio aflita:
Já disseste o que tinhas a dizer?
Não, respondi. Ainda posso falar?
Podes, sim. Aproveita que vou esperar por ti aqui fora.
E retirou-se o anjo, sempre de joelhos, indo colocar-se no seu lugar, junto aos outros querubins e serafins assistentes de Deus.
Foi, então, que recebi uma graça especial e tive coragem de falar.
Meu Senhor e meu Deus! exclamei.
E uma voz maviosa como sussurro de brisa, tão terna, tão meiga que me encheu de coragem para continuar, respondeu:
Fala, servo bom e fiel!
Que doces palavras saídas da boca de Deus. Como me sentia feliz e animado naquela hora que eu desejaria nunca terminasse. Podia compreender, muito bem, toda a satisfação do Apóstolo São Pedro, quando pediu a Jesus para permanecer no monte da transfiguração, propondo-se fazer três tendas, três casas, para Jesus, Moisés e Elias.
Se eu pudesse, também, nunca sairia da presença de Deus e ficaria sempre a escutar a beleza divina de suas palavras de carinho, alentando-me a fazer o meu pedido.
Meu Senhor e meu Deus! continuei. Venho para Vos fazer um único pedido. Venho com a alma cheia de súplica, implorar de Vossa misericórdia perdão para os meus pecados. Se não sou um Sacerdote de acordo com o que deseja o Vosso coração, perdoai-me, Senhor, e ensinai-me a viver como desejais.
E aquela mesma voz suave e terna, deixou-me a brandura deste consolo, enchendo-me de indizível comoção e felicidade:
Sim, meu filho. Teus pecados serão perdoados, na medida do teu arrependimento. Receberás a graça deste arrependimento.
E, parando um instante, deixou que eu experimentasse daquela divina promessa. Por fim, voltou a falar.
Que mais desejas? Pede em nome de Jesus Cristo, de quem tu és um representante!
E pedi. Pedi aquilo que eu julgava imprescindível para o equilíbrio do mundo e para a subsistência da sociedade.
Pedi, animado para receber, em nome de Jesus Cristo, o meu Senhor e Mestre. Pedi assim:
Ó Deus Onipotente, já que tenho a ventura de Vos poder falar, peço-Vos uma grande coisa. Suplico-Vos que não Vos esqueçais das mães de todo o mundo. Das mães que me pedem para rezar por elas. Das mães que não sabem ser mães. Das mães que não cuidam de seus filhos. Das mães que escandalizam os filhos. Das mães que desrespeitam a maternidade. Das mães que não são verdadeiras mães. Das mães...
. . Suplico-Vos que não Vos...
. Amar como Jesus Amou